Meio século de eletrificação da Linha do Norte
A 3 de novembro de 1966, com a conclusão da eletrificação da Linha do Norte - eixo fundamental e mais relevante da rede ferroviária - é dado mais um passo no processo de alteração do modo de tração ferroviária, dominado até então pelo vapor, nos primórdios do caminho-de-ferro, e pelo diesel introduzido em Portugal no final da década de 40. Esta mudança de paradigma foi-se estendendo gradualmente a outras linhas do país e tem associado um conjunto de vantagens, desde logo ambientais, mas também de eficiência, de velocidade e tecnológicas, na medida em que suporta e viabiliza novos processos de exploração.
Dos 2 562 km de via-férrea em exploração em Portugal, 1 633 encontram-se hoje eletrificados, perspetivando-se que, no contexto do plano de investimentos em infraestruturas - Ferrovia 2020, sejam eletrificados mais 430 km nos próximos anos, nomeadamente nas linhas do Minho, Douro, Beira Baixa, Oeste, Algarve e com o desenvolvimento da nova linha do Corredor Sul.
Este cenário, que resulta dos diferentes processos de investimento, tem também subjacente uma ação permanente de manutenção das diferentes infraestruturas que compõem a catenária o que permite que, por exemplo na Linha do Norte, existam ainda componentes, em pleno funcionamento e sem limitações, que datam da origem do processo de eletrificação.
Carecendo de um acompanhamento permanente, a atividade de inspeção de catenária é realizada mensalmente e articulada com as especialidades de Via e Geotecnia, de modo a assegurar uma otimização de recursos.
Esta atividade regular é acompanhada por ações de manutenção preventiva tendentes a promover a regeneração dos principais componentes da infraestrutura de catenária, para que a fiabilidade seja compatível com as exigências da exploração. Por outro lado, tratando-se de uma infraestrutura complexa e particularmente vulnerável em situações de intempérie, e cuja operacionalidade é determinante para que os comboios, em tração elétrica, possam circular, a prontidão das equipas e a disponibilidade de meios técnicos e logísticos são o garante para uma resposta capaz, eficaz e eficiente, minorando os impactos que daí possam decorrer para a exploração ferroviária.
Acresce que pela sua especificidade, as atividades de manutenção relacionadas com esta infraestrutura implicam procedimentos obrigatórios de corte de tensão, com interrupção da circulação ferroviária, decorrendo predominantemente em regime noturno.
De referir ainda que, por se tratar de uma área cuja tecnologia e competências são exclusivas do modo ferroviário e onde o conhecimento é adquirido internamente, com base em ações de formação contínua, para assegurar a totalidade das atividades de inspeção e fiscalização, e a manutenção interna de 38% da rede, a Infraestruturas de Porugal dispõe de equipa de catenária, altamente especializada, com cerca de 160 elementos.
Na Linha do Norte, os custos médios totais associados à manutenção da infraestrutura de catenária são da ordem dos 2,5 milhões de euros/ano.
Nota
A Linha de Cascais foi a primeira linha a ser eletrificada em Portugal tendo o processo de eletrificação sido concluído em 15 de agosto de 1926.
O segundo grande passo do projeto de eletrificação dá-se por ocasião da celebração do centenário do caminho-de-ferro em Portugal, com a conclusão da eletrificação da Linha de Sintra e do troço entre Lisboa e o Carregado, da Linha do Norte.
Constituída por uma linha aérea formada por um ou mais fios e um ou mais condutores longitudinais, a infraestrutura de catenária tem como fim último o transporte de energia elétrica que é captada pelos comboios através do pantógrafo – sistema articulado colocado sobre as unidades motoras.
Distinguindo-se de outras disciplinas ferroviárias, pode afirmar-se que a catenária instalada na rede ferroviária nacional tem uma “marca” própria, que a distingue de todas as outras, porquanto todas as especificações técnicas, parâmetros, regras de projeto, montagem funcionamento e manutenção são de conceção interna, desenvolvidas pelos técnicos do Grupo Infraestruturas de Portugal.